Não se pode comunicar algo sem que haja algo
para ser comunicado. Porém, nossa incapacidade de transmiti-lo não o desqualifica.
A ideia de que os fatos podem ser concebidos
de outra maneira senão a mais fiel possível é o negar da sanidade e o desdém da
lucidez.
Muitas propagandas de cunho político, por
exemplo, podem omitir fragmentos da verdade para que sua mensagem seja transmitida
ao público sem que haja resistência no recebimento da motivação que tenta ser
passada. Dessa mesma forma, uma reportagem televisiva pode selecionar
fragmentos específicos que vão enfatizar a motivação qual o jornalista quer
transmitir, de modo que a resistência do público seja pouca.
Uma propaganda política ou uma reportagem
televisiva é muito pouco conteúdo para se investigar a verdade e não deveria
ser o suficiente para moldar uma opinião, mas é. Mais do que isso, 30 segundos
de comunicação é mais do que o suficiente para modificar toda a concepção de
alguém sobre aprendizados que carregava desde a infância.
A comunicação não pode ser separada do
pensamento.
Confiar em afirmações sem que se aceite a
possibilidade de que as informações que se possui possam estar incorretas é a
forma mais fácil de estar enganado. O termo “saber” é subjetivo, pois ninguém
tem o poder de saber a respeito de algo concretamente, por causa da ausência de
solidez em nossa percepção e em nosso armazenamento. Podemos estar plenamente
convictos de que algo é fatídico e mesmo assim estarmos errados. Podemos
associar o que sabemos num momento em comparação àquilo que antes não sabíamos,
mas isso ainda não é o suficiente para dizermos que essa nova conclusão que
possuímos é o ápice do saber.
Existe uma crença popular de que o estudo é um
tipo de libertação sobre estigmas sociais que aprisionam a mente e este é um
absurdo, por ignorar a premissa de que grande parte do conteúdo acadêmico é
voltada para criar novos estigmas sociais. De nada adianta ter a crença de que
aprender a organizar a sociedade em parâmetros diferentes vai te tornar livre,
se você apenas consegue nomear novos grupos e acusar adversários ideológicos de
estarem cometendo moralmente opostos ao que se deseja. Não é a leitura sobre a
caverna de Platão que vai te apresentar ao mundo real nem assistir ao filme
Matrix vai te fazer acordar do mundo virtual. O desejo de conhecer a verdade
não é o suficiente para obter a liberdade, muito menos quando não se reconhece a
existência da verdade absoluta. O ato de apenas flertar casualmente com a
verdade para conquistar um ponto de vista, indaga o fato de que não se
compromete com a mesma, para não inibir sua necessidade de possuir a mentira.
Mesmo a investigação mais minuciosa não é
capaz de reduzir a verdade em toda sua magnitude através de palavras ou
imagens.
Os “artistas” pós-modernos, porém, vendem ao seu público a falácia de que obter conhecimento é o método para atingir a transgressão. O erro nisso se encontra ao ignorar o fato de que o conhecimento apenas existe sobre aquilo que pode ser experimentado. Não existe sabedoria a respeito daquilo que já não foi pensado e o acúmulo de informações nada faz além de prender quem estuda àquilo que já foi descoberto ou inventado. Ou seja, aquilo que é objeto de estudo pode ampliar a percepção do estudante a respeito do tema abordado, mas somente o potencial do próprio estudante pode fazê-lo transcender o objeto. As ilustrações do Latuff são uma clara demonstração de como o senso comum pode promover a ignorância ao tentar resumir figurativamente a totalidade de um fato.
Os “artistas” pós-modernos, porém, vendem ao seu público a falácia de que obter conhecimento é o método para atingir a transgressão. O erro nisso se encontra ao ignorar o fato de que o conhecimento apenas existe sobre aquilo que pode ser experimentado. Não existe sabedoria a respeito daquilo que já não foi pensado e o acúmulo de informações nada faz além de prender quem estuda àquilo que já foi descoberto ou inventado. Ou seja, aquilo que é objeto de estudo pode ampliar a percepção do estudante a respeito do tema abordado, mas somente o potencial do próprio estudante pode fazê-lo transcender o objeto. As ilustrações do Latuff são uma clara demonstração de como o senso comum pode promover a ignorância ao tentar resumir figurativamente a totalidade de um fato.
Uma
análise prática de como a fragmentação do fato pode ser usada para induzir o
receptor ao erro:
Nesta matéria real do jornal da Globo, o
título não deixa claro qual foi o fato ocorrido, mas evidencia que a intenção
da autora Camila Silva é dizer que houve um fato cujo causador foi a discussão. Entre os artifícios usados
neste texto, pode-se destacar a Subtração,
que é o ocultar de informações imprescindíveis ao entendimento. A subcategoria
deste artifício é o efeito de prosopopeia,
que é a condição de usar objetos, animais, ou conceitos abstratos como
praticantes ou sofredores de uma ação tipicamente humana para ocultar o sujeito
autêntico e promover a motivação do comunicador.
As crianças usam muito essa técnica para desviarem a direção dos pais, ao dizerem que um objeto se quebrou, para que os pais não possuam entendimento emocionalmente negativo sobre algo que eles fizeram se quebrar.
As crianças usam muito essa técnica para desviarem a direção dos pais, ao dizerem que um objeto se quebrou, para que os pais não possuam entendimento emocionalmente negativo sobre algo que eles fizeram se quebrar.
A motivação da jornalista foi conduzir o
público a pensar que a discussão em si foi quem causou o esfaqueamento do
motorista, o atropelamento da mulher e a agressão da transexual e dá a entender
que foi algo em curto período de tempo. Porém ao ler a matéria, se percebe que confusão foi apenas um termo usado para
resumir a totalidade dos fatos e ocultar a identidade dos sujeitos autênticos
das ações praticadas.
A discrição da matéria tenta esclarecer:
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Briga começou após
discussão entre transexual e condutor do micro-ônibus na noite de segunda
(1º) na Zona Oeste. Ela não queria que veículos estacionassem onde fazia
ponto de prostituição.
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Mais uma vez a jornalista subtrai, usando a briga como praticante da ação.
Não especificar informações como quem, onde,
quando, o quê e por quê, pode mudar a motivação da mensagem aos olhos do
receptor e fazê-lo ter um entendimento diferente daquilo que ele teria caso
obtivesse mais informações sobre o fato. Na infelicidade de ter que dar mais
informações sobre o ocorrido, a jornalista dá mais informações sobre o
ocorrido.
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Depois de discutir com
o motorista, Fernanda pegou o seu carro e passou a perseguir o motorista, de
acordo com testemunhas.
Testemunhas ainda
contaram que, ao tentar bater de propósito no micro-ônibus, ela errou o alvo,
invadiu a calçada com seu automóvel e atropelou uma passageira que estava no
ponto e não participava da confusão.
Fernanda então desceu
do seu veículo e esfaqueou o motorista, segundo testemunhas. Depois, ela foi
agredida pelo cobrador, que usou uma barra de ferro.
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A motivação da comunicadora era esconder o
fato de que a transexual foi a causadora de todos os fatos, direta e
indiretamente. Talvez por um ativismo de causa ou empatia ao sujeito, as
informações foram distorcidas de modo que o entendimento do público não fosse
impactado pela manchete. Não apenas o método de investigação da indução
linguística demonstra isso, como o próprio título original qual a matéria foi
publicada comprova a tese.
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https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/10/02/transexual-apanha-de-cobrador-de-onibus-ao-atropelar-passageira-e-esfaquear-motorista-em-sp.ghtml
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A motivação do comunicador muitas vezes é
preferir que o receptor entenda uma mentira ou uma confusão a acabar tendo suas
opiniões e anseios morais contraditos pelo impacto da verdade.
A comunicação
é como chamamos o efeito de buscar a realidade, transmitir ou sobrepô-la.

